22 fev Minério de ferro: China volta a interferir no mercado e derruba ações
Governo de Pequim intensifica combate à alta do preço da commodity; produto é um dos principais vetores de inflação no país
Parece uma reprise. O governo da China voltou a interferir no mercado de minério de ferro e desta vez a repressão tende a ser mais intensa.
A China atuou para esfriar a especulação no ano passado, após a cotação do minério bater recorde em maio. As autoridades retomaram as intervenções depois que os preços se recuperaram mais de 80% das mínimas atingidas em novembro, com alertas contundentes sobre especulação e desinformação e solicitações que negociantes do produto liberem estoques e forneçam informações sobre estoques e preços. As autoridades também investigam ilegalidades, como o acúmulo proposital de produto para inflacionar o mercado.
O que está em jogo é o preço de uma commodity essencial para a lucratividade de grandes mineradoras como a brasileira Vale (VALE3), a Rio Tinto Group e a BHP Group — na véspera, os papéis da Vale desabaram 4,30%.
O produto é também um dos principais vetores de inflação na China, que importa cerca de 70% de todo o minério de ferro transportado por navios no planeta. A retórica ficou mais incisiva à medida que as autoridades tentam chegar ao difícil equilíbrio de estimular o crescimento econômico sem esquentar a inflação.
“A China pode pressionar os preços do minério de ferro elevando o custo de negociação dos contratos futuros e pressionando individualmente as principais firmas que negociam o produto”, disse Tomas Gutierrez, analista da Kallanish Commodities. “Mas a caixa de ferramentas é limitada. Um recuo mais consistente do preço do minério de ferro só será provável quando os mercados concluírem que superestimaram a disposição da China de estimular a economia.”
Os contratos futuros em Singapura chegaram a cair 21% após atingirem o maior preço em cinco meses no início de fevereiro, evidenciando o status do minério de ferro como uma das commodities mais voláteis do mundo.
O aumento da produção de aço deve impulsionar o consumo de minério de ferro. Pequim prorrogou o cronograma para o pico de emissões poluentes pelo setor siderúrgico, o que pode indicar que um estímulo mais robusto e intensivo em carbono está a caminho. A produção diária de aço bruto chegou a 2,79 milhões de toneladas, subindo 0,5% em relação ao mês anterior, de acordo com estimativas da Associação Chinesa de Ferro e Aço. A Fortescue Metals Group calcula que as siderúrgicas chinesas podem produzir 1 bilhão de toneladas de aço neste ano.
A elevação dos gastos com infraestrutura e a flexibilização monetária também podem impulsionar a demanda. Mais de uma dezena de províncias e municípios apresentaram projetos industriais e de infraestrutura que requerem investimentos totais acima de 25 trilhões de iuanes (US$ 3,9 trilhões), segundo a imprensa local.
Alguns se perguntam em que momento a demanda vai avançar o suficiente para reduzir os enormes estoques acumulados na China. A atividade das siderúrgicas sofre restrições à produção e às emissões para garantir céu azul durante os Jogos Olímpicos de Inverno. Os estoques nos principais portos da China são os maiores desde 2018.
Fonte: https://exame.com/invest/mercados/minerio-de-ferro-china-volta-a-interferir-no-mercado-e-derruba-acoes/